Formação de leitores: como formar leitores críticos e com textos de qualidade no século XXI?
O mundo está mudando muito rápido, mais do que acontecia antigamente, devido às novas tecnologias. O acesso à informação e a aprendizagem se configuram de uma outra maneira.
Assim, muda também a forma de olharmos para o conteúdo. O que antes era transmitido na sala de aula agora pode ser acessado facilmente na Internet. Então, surgem outras questões: como buscar conteúdo e respostas na Internet? Como saber o que é bom ou o que é melhor?
É preciso aprender a pesquisar e a selecionar informação.
Muda também o jeito como nos relacionamos. Usamos a tecnologia para a comunicação, as redes sociais, e muitas crianças e adolescentes navegam pelo mundo virtual sem nenhum tipo de orientação e reflexão sobre a natureza e a qualidade do conteúdo. Como ajudá-los? Qual é o papel de quem educa? A criança precisa aprender a se relacionar com as pessoas e com o mundo. Precisa aprender a pensar sobre o mundo, refletir sobre as situações de vida e situações-problema, que estão cada vez mais complexas.
Dessa forma, o aprendizado muda como um todo. A criança de hoje, diferentemente de outras gerações, nasce inserida nesse novo mundo tecnológico. É preciso ter fôlego e disposição para entender o que está acontecendo, participar desse mundo e refletir sobre as constantes mudanças. Não é preciso ter medo da tecnologia, ela traz muitas vantagens e faz parte da nossa vida.
A alfabetização, nesse contexto, muda muito também. A criança precisa e quer ler o mundo à sua volta. E, para isso, usa diversas linguagens.
Ler é muito mais do que decifrar um código. Podemos ler diferentes linguagens, de diferentes maneiras. Ler é atribuir significado.
É preciso incentivar a leitura desde cedo e, mais do que isso, é preciso ler o mundo!
Fazemos curadoria de livros infantis, ou seja: temos dicas de livros, resenhas para crianças. Além disso, trazemos teoria para professores e muito mais!
Na plataforma aprofundamos o assunto, venha conhecer!
Em Pamongas, Mel era a única pessoa cercada por borboletas. Sentia-se diferente e, quanto mais o tempo passava, apareciam nós por seu corpo: na perna, nos dedos, na garganta.
Resenha para crianças
Vamos conhecer o livro Nós?
Em Pamongas, Mel era a única pessoa cercada por borboletas. Sentia-se diferente e, quanto mais o tempo passava, apareciam nós por seu corpo: na perna, nos dedos, na garganta. Até o dia em que tromba com Kiko e descobre que há um mundo com pessoas diferentes além de Pamongas. Aos poucos, ela sente seus nós se desfazendo, ao passo que toma coragem para começar uma amizade e encontrar um novo lugar para morar.
Mel e seus nós vivem uma linda história sobre angústia, aceitação, coragem e pertencimento. E, claro, preconceito – porque ele está por aí e é importante pensar sobre isso também.
Mais sobre a leitura do livro Nós
Nós, de Eva Furnari, foi o primeiro livro do nosso desafio literário! Veja a confusão que foi a leitura!
É um livro que, além de proporcionar uma leitura muito gostosa, traz reflexões interessantes sobre aceitação e diversidade, que podem ser conversadas conforme a mediação da leitura.
Este é um post para quem quer se aprofundar na teoria! Ele trata da formação de leitores e explicaremos o que é leitura segundo a nossa linha de pensamento. Ele também foi adaptado do meu livro:
Práticas de Linguagem oral e escrita na Educação Infantil – PNBE do professor 2013 – Bruna Cardoso – Editora Anzol (Grupo SM); p. 38-43.
A FORMAÇÃO DE LEITORES
Após termos abordado a construção da linguagem escrita, torna-se interessante abrir espaço aqui para falarmos um pouco sobre a formação do leitor, assunto importante dentro desse processo de construção, pois envolve o papel da escola, da sociedade e da família.
Iniciaremos refletindo sobre o que é a leitura.
Tradicionalmente vista como a decifração de um código, hoje em dia sabe-se que o processo de leitura é muito mais que isso. Ler envolve uma série de capacidades, que vão muito além da pura decodificação. Aliás, quem aprende a ler apenas decodificando não atribui significado ao texto e não compreende o que lê. Esse é um dos grandes problemas da alfabetização no Brasil: o analfabetismo funcional.
E que outras capacidades de leitura são essas?
São as capacidades relacionadas à compreensão, à interação e à interpretação.
Para refletirmos sobre o que essas capacidades representam, pensaremos nas atitudes que um leitor proficiente tem ao iniciar uma leitura.
Primeiramente ele escolhe o que vai ler, levando em consideração algum motivo: necessidade, vontade, prazer. Como é um leitor experiente, ele muitas vezes sabe alguma coisa sobre o autor, sabe a que gênero pertence o texto escolhido, assim como suas principais características.
Dessa maneira, por meio dos seus conhecimentos prévios, consegue realizar algumas antecipações sobre o que vai ler, além de produzir inferências ao longo da leitura. Durante a leitura, este leitor também conseguirá relacionar o texto que está lendo com outros que já foram lidos anteriormente, perceber como o texto escrito se relaciona com as imagens (no caso de um jornal, por exemplo), apreciar a leitura e elaborar sua opinião a respeito do assunto tratado no texto.
Quando falamos de leitura, então, devemos considerar tudo isso. Por esse motivo, é possível trabalhar leitura com crianças bem pequenas, inclusive com bebês. Este ‘trabalho’ pode acontecer tanto em casa como na escola. É importante que o sujeito aprenda desde pequeno para que serve a leitura, nas mais diversas instâncias e, ao mesmo tempo, aprofunde e aprimore este conhecimento na escola. A leitura precisa fazer parte da vida.
O que é leitura, afinal?
Resumidamente, temos três tipos de capacidades de leitura[1]:
as de decodificação, que envolvem: compreender as diferenças entre escritas e outras formas gráficas, conhecer o alfabeto, compreender a natureza alfabética do sistema de escrita, ler (reconhecendo globalmente palavras escritas) e ampliar a sacada do olhar para porções maiores de texto, desenvolvendo maior fluência e rapidez na leitura;
as de compreensão (estratégias), que envolvem: a ativação de conhecimentos prévios, a antecipação ou predição[2] de conteúdos ou propriedades dos textos, a checagem de hipóteses, a localização ou cópia de informações, a construção de informações a partir de comparação de trechos do texto, a produção de inferências[3] locais e globais;
as de apreciação e réplica do leitor em relação ao texto (interpretação, interação), que envolvem: a recuperação do contexto de produção de texto, a definição das finalidades da atividade de leitura[4], percepção de relações de interdiscursividade[5], percepção de outras linguagens[6], elaboração de apreciações estéticas, afetivas e até relacionadas a valores éticos[7].
Na Educação Infantil é possível, por exemplo, trabalhar as capacidades de decodificação, quando uma criança, a partir do seu nome ou de palavras significativas, conhece as letras do alfabeto, podendo até começar a estabelecer relações entre grafemas e fonemas. Também é interessante propor atividades em que a criança possa “ler sem saber ler”, ainda convencionalmente, fazendo uso de estratégias de antecipação, localização e inferência.
Além disso, a definição das finalidades da leitura deve ser sempre dita ou demonstrada de alguma maneira aos alunos: “Hoje eu trouxe uma reportagem interessante sobre show gratuito que vai ter no parque para as crianças. Vamos ler?”.
Apreciar e emitir opinião, mesmo que de maneira mais simples, sobre um texto lido pelo professor, ou em casa por um adulto, também são tarefas perfeitamente possíveis para crianças de 4 a 6 anos (ou menos!).
Pensando agora na importância do adulto no processo de formação das crianças como leitoras, para que isso aconteça (a criança se formar como leitora), é preciso que haja a articulação de dois fatores: o contato com materiais escritos e o compartilhamento com outros leitores de práticas de leitura. Quando a criança ainda não sabe ler convencionalmente, isso acontece, muitas vezes, concomitantemente, pois é o leitor adulto que traz o material escrito e, assim, o inclui nas práticas de leitura.
“A tarefa de mostrar às crianças as características e o sentido da escrita fica, portanto, sob a responsabilidade dos leitores mais experientes que convivem com elas. Cabe a eles compartilhar momentos de leitura com as crianças, fazendo-as, assim, usuárias da escrita”[8].
É preciso sinalizar que a preocupação com os textos que serão trazidos deve ser enorme. A criança precisa encontrar significado nos textos que irá ler e isso só acontecerá quando a função da leitura for percebida.
Ou seja, na maior parte dos casos, para se tornar um bom leitor, o indivíduo precisa se formar nesse sentido. Desse processo de formação, fazem parte todas as vivências que ele tem desde pequeno acerca da linguagem escrita. Além disso, nessa trajetória, o contato com outros bons leitores mais experientes é muito importante, pois são eles os responsáveis pela formação leitora, visto que proporcionam às crianças o contato com materiais escritos e a inserção nas práticas de leitura.
O texto acima foi adaptado do meu livro:
Práticas de Linguagem oral e escrita na Educação Infantil – PNBE do professor 2013 – Bruna Cardoso – Editora Anzol (Grupo SM).
Este texto é propriedade da autora (Bruna Cardoso) e da Editora SM, qualquer tipo de reprodução é proibida.
[1] Texto organizado a partir de ROJO, Roxane Helena Rodrigues. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo: SEE/CENP, 2004. Apresentado em congresso, em maio de 2004.
[2] Uma espécie de “adivinhação” de fatos, características ou assuntos, de que tratará o escrito, por meio da mobilização dos conhecimentos prévios que o leitor possui sobre o tipo de texto, o portador, o léxico, o assunto de que trata etc.
[3] Tentativa de captar o que não está explícito no texto, por meio dos conhecimentos prévios que possui o leitor.
[7] Criticar, dizendo os motivos (se gosta, não gosta e por quê).
[8] STRANO, Paula. Como se formam os leitores. São Paulo: Instituto Superior de Educação Vera Cruz, 2010. p. 10. Pós- graduação: “Alfabetização: relações entre ensino e aprendizagem”.
Vídeos do nosso canal que podem ajudar na formação de leitores:
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