Você já viveu algo assim?
Já é tarde da noite quando o menino deita e espera, com olhos bem abertos, o pai chegar para contar uma história antes de dormir. Os dois, aconchegados nas almofadas espalhadas sobre a cama, escolhem uma narrativa para a ocasião – uma daquelas que o menino ouve desde que estava na barriga da mãe. É a história do Patinho Feio, que foi contada ao pai por sua avó, quando ele ainda era criança, lá no sítio onde os avós moravam. Pois o pai começa e, junto com as palavras, vêm o cheiro da lenha queimando no fogão, o barulho das galinhas ciscando no terreiro e o calor do colo da avó, sempre aconchegante. O menino não conheceu o sítio, nunca se sentou no colo da avó de seu pai, não sentiu o cheiro da lenha e tampouco ouviu as galinhas ciscando no terreiro, mas nada disso é necessário para que ele saiba que aquela história tem muito mais a contar do que a vida de um pequeno cisne que nasce no ninho errado e é confundido com um filhote de pato.
Tradição
Desde que desenvolveu as habilidades de comunicação (principalmente a fala), o homem vem contando e recontando histórias. Pais, avós, tios, professores, vizinhos, amigos… as histórias vêm de diversas fontes, de diversas maneiras. Elas criam vínculos, promovem momentos de confraternização, troca de experiências, união, aconchego, além de ser um ótimo entretenimento! Transmitem costumes, valores, ideias, crenças e conhecimentos aos jovens integrantes de uma sociedade, com a importante missão de preservar suas raízes e tradições.
Bons motivos para a contação de histórias
A contação de histórias também é um excelente meio para despertar a imaginação, instigar a reflexão, o raciocínio lógico, ajudar na difícil tarefa de aprender a lidar com as emoções e expectativas, assim como reconhecer aspectos da conduta humana e do convívio social. A partir da ficção, é possível viver, com níveis de intensidade diferentes, as situações que fazem parte da vida e que demandam certa estrutura emocional, como a chegada de um irmão, a separação dos pais, a morte ou a mudança de cidade, por exemplo.
Mas não é só isso! Ouvindo histórias, as crianças têm a oportunidade de desenvolver a linguagem, adquirir vocabulário e se apropriar de construções mais elaboradas, que podem ser, inclusive, próprias da linguagem escrita – quando a história é lida por um adulto ou outra criança leitora.
Diante de tantos fatores, fica evidente a importância da contação de histórias para as crianças desde que são bem pequenas. Fica evidente, também, o papel essencial que tem o narrador nesse processo – com tantas funções fundamentais em diversos aspectos do desenvolvimento infantil, as histórias ganham destaque na rotina das crianças, tanto na escola, quanto em casa. Portanto, tal atividade deve ser feita com propósitos definidos e bastante cuidado e carinho.
Como se preparar
É fundamental que o adulto que vai contar a história conheça a narrativa com propriedade – já tenha ouvido ou lido antes, refletido sobre as possibilidades de desdobramentos após ou durante a contação, assim como é importante que conheça seus ouvintes, o que têm pensado, falado ou vivido, para que saiba como os fatos narrados podem impactar nesse cenário. E para que tudo isso aconteça, é indispensável que haja bastante sensibilidade. Muito pode ser mostrado por meio de olhares, gestos e expressões. O narrador deve permanecer atento às reações das crianças, deixando-as à vontade para que se manifestem espontaneamente nos diferentes momentos da sequência de fatos e não somente quando a história termina – qualquer detalhe pode despertar interesse e instigar a reflexão mais profunda da criança.
O indispensável
Por fim, é indispensável ressaltar a importância do afeto presente no momento de contação de histórias. Assim como o pai, aquele menino certamente guardará a história do Patinho Feio em sua memória, junto com os deliciosos momentos que os dois compartilham antes de dormir, mas, para ele – em vez de cheiro de lenha queimando no fogão – a narrativa trará algum cheiro presente em sua casa e isso ficará registrado junto com valores, crenças e conhecimentos que possivelmente seu pai dividiu com ele durante essas leituras. Porque contar histórias é muito mais do que narrar uma sequência de fatos – é trazer para o universo infantil um mundo imaginário que carrega uma infinidade de informações.
As várias maneiras de se contar histórias
Aqui, usamos o termo contação de histórias de maneira abrangente, envolvendo tanto a contação “de boca”, quanto a leitura em voz alta. Ambas são modalidades maravilhosas e importantes, uma não invalida a outra. Juntas e alternadas, elas precisam fazer parte do repertório de qualquer criança.
Na Plataforma Ler o Mundo temos várias histórias em áudio e texto que podem te ajudar a contar histórias para as crianças! Cadastre-se gratuitamente e venha conhecer!