Biblioteca antirracista
Amamos versões de contos de fadas ambientadas em lugares diferentes! Uma nova atmosfera para um enredo conhecido traz uma experiência de leitura que amplia as percepções de mundo e o estabelecimento de relações vira algo natural, que valoriza a diversidade. Isso faz parte da bibliodiversidade. Dentro desse conceito, é preciso pensar em construir uma biblioteca antirracista.
Os contos de fadas tradicionais podem e devem estar presentes na infância. Eles são parte da cultura, mas de uma cultura européia. Nosso papel é ampliar a visão de mundo das crianças (e a nossa própria) por meio de narrativas que tragam o protagonismo negro, a cultura africana e brasileira.
Uma biblioteca infantil que contempla a diversidade de temas, gêneros e referências estéticas é fundamental.
Além disso, como diz Chimamanda Ngozi Adichi, existe o perigo de contarmos uma única história.
Em seu discurso, Chimamanda disse que sempre gostou muito de ler e quando começou a escrever, ainda bem pequena, seus personagens eram brancos, tinham olhos azuis e viviam na neve. Algo inusitado, já que é negra, tem olhos castanhos, nasceu e nunca havia saído da Nigéria (um país super quente). Seus personagens comiam frutas que ela não conhecia, falavam sobre assuntos que não faziam parte de sua vida. Esse era o repertório que ela tinha construído sobre a literatura.
Depois, quando começou a ler as poucas histórias escritas por africanos que encontrava, tudo mudou. Ela percebeu que fazia muito mais sentido escrever sobre algo que conhecia – “livros africanos me salvaram de ter uma única história.” Assim, seguiu criando histórias que representam suas ideias, seu povo, sua educação, suas convicções – ajudando também o mundo nessa descoberta.
Por muito tempo, a história dos negros no Brasil foi contada principalmente por uma única voz: a do branco. Acontece que nós não queremos que estereótipos façam com que a história se torne uma única história (como disse Chimamanda). Por isso, aqui no Ler o Mundo, estamos sempre abertas a ouvir as diferentes vozes e trazemos o protagonismo negro na literatura, convidando vocês a reconstruir essa história com a gente.
Para isso, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista.
Vejam as nossas sugestões de livros de contos de fadas que precisam fazer parte de uma biblioteca e de uma educação antirracista.
A princesa e a ervilha, de Rachel Isadora
Essa versão do tradicional conto de Andersen A princesa e a ervilha se passa na África! A autora Rachel Isadora viveu durante dez anos em vários países africanos e adaptou vários clássicos para cenários africanos.
As falas das crianças são exemplos claros da ampliação de olhar proporcionada pela leitura:
“Olha, nessa história as roupas das princesas são muito mais coloridas!”
“As princesas falam línguas diferentes!”
Cinderela e Chico Rei, Chapeuzinho Vermelho e o Boto-cor-de-rosa, Joãozinho e Maria, O Pequeno Polegar, Rapunzel e o Quibungo, de Cristina Agostinho e Ronaldo Simões Coelho, com ilustrações de Walter Lara
Essa série de livros traz os contos adaptados a partir da questão:
“E se Perrault, Andersen e Grimm tivessem nascido não Brasil? Como seriam os seus contos?”
As histórias se passam aqui no Brasil, são permeadas por elementos da nossa cultura e todos os personagens são negros.
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